Agricultura celular: o que esperar do futuro dos alimentos
28 Março 2023
Produzir carne de laboratório e outros alimentos para consumo da população é sustentável e fará uma grande diferença no mercado.
Acompanhando o crescimento da população mundial, a produção de alimentos cresceu bastante nos últimos anos — e promete crescer ainda mais. De acordo com o ONU Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos), o mundo terá mais 2,2 bilhões de habitantes até 2050, um crescimento que obviamente demandará maior produção de proteínas e vegetais para alimentar tantas pessoas.
Tendo em vista a sustentabilidade e a produção de alimentos para esse possível cenário, cientistas e empresários buscam encontrar soluções. Uma iniciativa que tem ganhado destaque é a agricultura celular. Você sabe do que se trata?
Continue por aqui para entender o que é e como a agricultura celular produz alimentos criados em laboratório, como carne e leite, sem a necessidade da criação e do abate de animais.
O que é agricultura celular?
A agricultura celular consiste no emergente campo de produção de carne artificial e outros itens de origem animal a partir de cultura de células em laboratório, ao invés de manter animais adultos em cativeiro até o abate.
Essa atividade se baseia nos avanços da biotecnologia e reforça a ciência alimentar de produtos variados que contêm proteínas, como leite e ovos, bem como alimentos à base de tecidos, como cortes de carne que consumimos no dia a dia. Nesse sentido, as chamadas “carnes de laboratório” prometem garantir comida no prato de forma sustentável e segura.
Por que investir em agricultura celular?
A alta demanda por proteína animal levou cientistas, governantes e empresários a buscarem alternativas eficazes para suprir essa necessidade alimentar, com aproveitamento ótimo e menor desperdício. Isso se dá, pelo menos, por dois motivos: a preocupação com o meio ambiente e o aumento dos preços. Entenda mais, a seguir:
Produção de alimentos e meio ambiente
A pecuária representa cerca de 14% das emissões anuais de dióxido de carbono. Em cada etapa da cadeia de produção da carne — desmatamento, transporte, armazenamento e gestão de resíduos — existe um alto índice de liberação de gás carbônico, colaborando para o aquecimento global.
Além do desmatamento da Amazônia, outro grande problema da indústria agropecuária é o elevado consumo de água. Isso porque a exploração desse recurso causa zonas mortas nos oceanos e extinção de algumas espécies.
Aumento do preço
A inflação fechou 2022 em 5,79%, ficando acima da meta da inflação prevista para o ano, sendo impactado principalmente pelo setor de alimentos e bebidas. Em 2022, o consumo de carne chegou ao patamar mais baixo das últimas décadas, chegando a uma queda de mais de 25%.
Essa elevação excessiva de preços não atingiu somente o Brasil, mas o mundo todo. Assim, a carne feita em laboratório, também chamada de carne sintética, é uma boa opção para que a população não se sinta afetada por eventuais crises financeiras.
Como funciona a agricultura celular?
Em 2013, o cientista Mark Post relevou o primeiro hambúrguer de carne bovina do mundo criado exclusivamente em laboratório. Com uma pequena amostra celular de uma vaca, do tamanho de uma semente de gergelim, ele foi capaz de criar fibras musculares que foram transformadas em carne.
Sua empresa, Mosa Meat, produziu cerca de 80 mil hambúrgueres a partir dessa pequena amostra celular. Tal iniciativa provocou um número crescente de tentativas de cultivar carnes em laboratório.
As técnicas para a produção de carne cultivada em laboratório podem variar um pouco. Porém, em geral, são feitas da seguinte forma: em vez de matar animais por sua carne, o processo começa com a remoção cuidadosa de um pequeno número de células musculares de um animal vivo — normalmente, usa-se anestesia local para aliviar a dor.
Em seguida, um técnico de laboratório coloca as células colhidas em biorreatores, antes de adicioná-las a um banho de nutrientes. As células se proliferam, produzindo tecido muscular real, que os cientistas então moldam em “andaimes” comestíveis para criar a carne de laboratório.
A partir daí, os técnicos podem transformar as células cultivadas em laboratório em bifes, nuggets de frango, hambúrgueres ou sashimi de salmão. O produto resultante é um verdadeiro corte de “carne in vitro”: pode sair embalada e preparada para venda.
Quais são as perspectivas futuras?
Com boas expectativas diante do grande potencial do segmento de alimentação saudável, empresas alimentícias já têm investido em pesquisas para a proteína de carne produzida em laboratório. A ideia é produzir alimentos que ofereçam qualidade de vida e, ao mesmo tempo, um bom resultado econômico.
A agricultura celular ainda é uma novidade que pode chocar alguns brasileiros. Afinal, há poucos anos, era impensável comer proteínas de carne cultivada em laboratório. Mas as pesquisas garantem a segurança do consumo de um produto que promete ser uma revolução na agropecuária alternativa mundial.
Em comparação com seus equivalentes convencionais, os produtos de agricultura celular têm menos impacto ambiental, são mais seguros, livres de impurezas e garantes um fornecimento mais constante e sustentável. Isso ocorre porque o produto está sendo produzido em condições seguras, estéreis e controladas.